As anteriores crónicas de Alcides Junqueira estão disponíveis no antigo servidor em que o blogue estava alojado (teoremadecardoso.blogspot.com)
Olá, amigos! Quão desconfortável é posição me encontro enquanto vos escrevo! Estou num barco que leva imigrantes clandestinos para Sevilha porque necessito de lá ir. Não porque procure trabalho, mas porque da última vez que lá estive deixei na pensão um pólo Lacoste e queria recuperá-lo. Um pólo lindíssimo, diga-se de passagem, que eu inacreditavelmente deixei na Posada Joaquím.
Ao meu lado está um senegalense, Tuchimbo, que é médium. Professor Tuchimbo. Tem uma história de vida interessantíssima. A mulher deixou-o porque não suportava as cartas espalhadas pela casa e os pêlos do gato “Calumango-Utulimbo” – nome equivalente ao nosso “Pantufa”- que segundo Tuchimbo, era um gato fantástico e acalmava os clientes nas sessões, oferecendo-lhes (sim, o gato) bolachas e um chocolate quente. Não fui muito nessa história. Não acredito que ele seja senegalense, tem cara de cambodjano.
Esperamos chegar hoje a Sevilha e, enquanto esperaremos por ser deportados, eu dirigir-me-ei à Posada Joaquim.
Horas depois.
Chegámos ao porto de Sevilha e fomos de imediato avisados que íamos ser deportados. Os aspirantes a imigrantes estão destroçados. O Tuchimbo já vai na oitava tentativa e conhece de um gajo em Conakry que já tentou cem vezes e, não obstante, tem um problema de pé de atleta gravíssimo. O barco em si também está destroçado já que, ao chegar a Sevilha, bateu contra um paquiderme de uma turista inglesa cinquentona de duzentos quilos que estava a dar umas braçadas.
Fui à Posada Joaquím e o seu dono – naturalmente chamado Joaquím – reconheceu-me logo, dizendo que eu era aquele português que tinha deixado as meias do Super Mario lá, com intenso pivete a bedum.
- E o pólo da Lacoste.
- También olía mal! – afirmou, pegando nas duas peças de vestuário, as quais a gerência da pousada não se dignou a lavar. Amanhã serei deportado para Dakar e apanharei de imediato o avião para a Amareleja, onde vivo, não antes de ter uma sessão com Tuchimbo (não de astrologia, mas sim de massagens, já que ele garantiu ser um especialista também nessa área.)
Até à próxima
Alcides Junqueira